quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Big Brother

Nos últimos meses, a noite portuense tem vivido sob um clima de guerra aberta, com os gangs da noite a lutarem pelo controlo da mesma. Esta semana morreu mais um segurança e ninguém sabe quando isto vai acabar. Com as pessoas assustadas com o ritmo das mortes, lá surgiu a Câmara Municipal com uma solução milagrosa que vai pôr fim a todos os receios: colocar câmaras de filmar em toda a zona da Ribeira. Mas não foi a única: também a Câmara de Coimbra vai adoptar esta medida na baixa da cidade.
Pessoalmente, tenho muito mais medo destas medidas, do que de toda a criminalidade junta. Considero que esta é uma enorme limitação ao bem mais fundamental numa sociedade, a sua liberdade. Não concebo a ideia de estar a circular num espaço público e estar a alguém a observar os meus passos, a reparar na minha fisionomia, a ouvir o que de mais assombroso possa estar a dizer (sim porque a seguir às câmaras vem os microfones) e no limite, a reparar nas parvoíces que possa estar a fazer (e confesso que sou pródigo em fazer coisas parvas quando penso que ninguém está a ver). Esta é, sem sombra de dúvidas, a maior das violências. E mais, na outra violência corremos o risco de a sofrer ao passo que esta, sentimos de certeza, com uma constante violação da privacidade.
Em 1948, George Orwell escreveu o romance "1984" em que fazia referência ao “BigBrother”, personagem omnipresente que nos observava e controlava a todos, numa metáfora aos poderes totalitários e à opressão que o excessivo dominio sobre as populações gera. Passados 59 anos, parece-me que em Portugal não se aprendeu a lição de Orwell e caminhamos precisamente no sentido que o autor procura desencorajar.
Mil vezes o nosso Portugalzinho com os putos a urinarem nas árvores ou atrás dos carros (quem nunca urinou na via publica que atire a primeira pedra) sem serem filmados do que o Grande Irmão a acompanhar-nos para todo o lado e a zelar pelas nossas atitudes e consciências… mesmo que isso implique alguns crimes. Se esse é o preço da liberdade então nem hesito em pagar.

Duque de Espadas

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