segunda-feira, agosto 22, 2005

... a procissão ainda vai no adro!

Estamos no pleno da época dos incêndios florestais e pergunto-me se a situação que assistimos poderá agravar-se? Igual pergunta fiz na semana anterior e a resposta, infelizmente foi: Sim é possível!
Enquanto o país arde, o 1.º Ministro Interino, António Costa, responde que não é necessária a presença do 1.º Ministro demissionário...desculpem, em férias… pois a situação está controlada. Entretanto, os fogos continuam a lavrar com mais intensidade e só chegados ao desespero é que o nosso governo se lembra de pedir ajuda internacional.
Mas nesta história, parece que tudo vai mal.
Custa-me perceber como contribuinte, porque é que temos que pagar cerca de 6000euros (em média) por cada hora que os meios aéreos estão ao serviço no combate aos fogos, quando temos uma frota considerável de “Pumas” da Força Aérea estacionados a ganhar ferrugem, ou porque é que foi adquirido equipamento para dotar os “Hércules C130” de capacidade para combater os fogos florestais que nunca foi utilizado.
Ao fim de 10 anos a pagar a peso de ouro meios aéreos para o combate aos incêndios florestais, tendo meios alternativos a baixo custo, o governo concluiu que tem que estudar a solução mais viável. Traduzido de”politiques” para português isso quer dizer: vai continuar tudo como está!

No que respeita à limpeza dos terrenos, não se pode coagir os proprietários a fazer a limpeza das matas quando é o próprio estado a dar o mau exemplo. Solução: há tantos reclusos nas cadeias que podiam ser aproveitados para fazer alguma coisa de útil à sociedade, limpando as matas por um preço simbólico!
Outro recurso a ser aproveitado na prevenção e combate aos fogos florestais são os muitos militares aquartelados, que passam o dia a beber umas cervejas e a jogar cartas. No ano passado o exército foi destacado, e bem, para fazer a vigilância das matas. Este ano não tenho conhecimento que o mesmo tenha acontecido, no entanto, poder-se-ia ir mais longe e colocar militares a fazer os rescaldos dos incêndios e prevenção aos reacendimentos, libertando os bombeiros e meios para outros incêndios.
São soluções simples, mas que vá-se saber porquê, não são postas em prática.

Mas tudo isto seria evitado se em primeiro lugar não houvesse quem pegasse fogo! Não acredito nas estatísticas que referem que só cerca de 30% dos incêndios têm mão criminosa! Será que os restantes 70% dos incêndios são fruto do sol que incide sobre um vidro de garrafa e provoca a combustão, muitos desses incêndios de madrugada (no pico do sol!!!)?
Vivemos num país de pirómanos, desde mentecaptos que ateiam fogo para gáudio de ver as labaredas e os bombeiros a trabalhar, até aos responsáveis de festas e romarias que não se coíbem de lançar foguetes e fogo de artifício, mesmo sabendo que é proibido, preferindo pagar uma multa irrisória.
Depois temos os interesses instalados, e esses sim, são na minha opinião responsáveis pelos grandes incêndios em Portugal. Desde a industria da celulose, sociedades de meios aéreos de combate aos fogos, madeireiros, empreiteiros, entre outros.

Entretanto ficam os números:

- Portugal «tem sete vezes mais incêndios por 1.000 hectares do que Espanha, 20 vezes mais do que a Itália e 22 vezes mais do que a Grécia»;
- Portugal foi o único Estado-membro onde o fogo consumiu mais floresta do que a média anual desde 1980;
- Até ao momento arderam mais de 120mil hectares de floresta desde o início do ano, sendo o país do Sul da Europa mais desvastado pelas chamas;
- O último relatório da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) indica que, nos primeiros sete meses do ano, foram destruídos 68.290 hectares de área florestal em Portugal, dos quais 52 mil só em Julho;
- Um relatório da Comissão Europeia revela que mais de um terço (37%) da área ardida em incêndios florestais na Europa do Sul o ano passado (2004) foi em território português;
- A Polícia Judiciária já deteve pelo menos 75 pessoas suspeitas de fogo posto;
- Este ano morreram em Portugal, em incêndios florestais, pelo menos 12 pessoas, nove das quais bombeiros.

Se isto não é motivo para o 1.º Ministro interromper as férias, então o que é?

Ás de Ouros

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