quarta-feira, outubro 03, 2007


O lugar do amor
O caso Esmeralda já se transformou numa telenovela, contudo e por ter muito a ver com a minha área de formação vou deixar aqui umas palavras. Não irei abordar aqui as questões jurídicas acerca deste caso pois não possuo competência para tal. Entendo também que as questiúnculas jurídicas que enredam esse caso complexo são acessórias.
Avancemos para o essencial. Esmeralda é uma criança com cinco anos de idade que foi entregue pela mãe a uma família para adopção. A família adoptante tratou da criança como se de um filho de sangue se tratasse. A criança e a família estebeleceram laços afectivos muito fortes e inquebráveis. O self da criança organizou-se em função do afecto que recebeu do casal que a acolheu. Para a pequena Esmeralda os seus pais são Adelina Lagarto e Luis gomes e isso é iniludível. Não se é pai ou mãe apenas pelo facto de se conceber biologicamente uma criança. Ser pai ou mãe implica cuidar, amar, educar, tratar... Nem todos os pais têm capacidade para exercer o poder paternal.
Parafraseando Luis Vilas Boas, caso se entregue a Esmeralda ao pai biológico tratar-se-á de um rapto emocional. Ninguém no seu perfeito juízo poderá pensar que esta passagem do poder paternal seja inócua. O mais certo é a criança vir a sofrer um desajustamento emocial, pois trata-se de uma ruptura afectiva em relação à família que a acolheu.
Quando ouço falar em período de transição para que a criança se adapte à nova família, penso logo nos iluminados que tiveram tão brilhante ideia! Mas será possível que esta criança consiga esquecer os cinco anos de vivência afectiva com o casal que a adoptou? E por que não perguntar à criança com quem é que ela quer viver, se afinal estirvermos verdadeiramente preocupados com o superior interesse da criança.
Fala-se ainda no apoio psicológico que será prestado à criança, à família adoptante e ao pai biológico na fase de transição. Este apoio psicológico é uma solução de recurso para remediar uma má decisão. Se a criança permanecer no seio da família que dela cuidou, não sofrerá um desajustamento afectivo logo não necessitará de apoio psicológico.
Bisca de Copas

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