segunda-feira, maio 29, 2006


Notas sobre Timor-Leste


Os conflitos recentes ocorridos no território timorense fizeram com que reflectisse acerca da delicada situação do país.

1. Timor-Leste tem cerca de 800 mil habitantes, sendo o grosso da sua população predominantemente jovem. Todavia, mesmo com um reduzido número de habitantes o território agrega 19 dialectos diferentes! Esta diversidade de dialectos torna-se um entrave à construçao de uma identidade nacional.
2. O país é muito pobre e a principal actividade das povoações é a agricultura de subsistência. A grande maioria dos jovens estão desempregados e não têm perspectivas de futuro. É compreensível que estes jovens se revoltem contra a paralisia e anacronismo do país. Outra agravante desta situação precária, é o facto de Timor não possuir uma elite política, nem económica. A pouca população com instrução degladeia-se em ajustes de contas antigos, gastando as suas energias em vinganças e ódios de estimação.
3. Os incidentes mais graves e que provocaram um maior número de vítimas ocorreram entre diferentes forças de segurança. Um grupo de soldados das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) cercou e disparou contra o quartel-general da Polícia Nacional (PNTL). Não se sabe ao certo quais as motivações que estiveram na origem deste incidente, no entanto, suspeita-se de um ajuste de contas antigo entre militares e a polícia. Os militares nunca se conformaram com o maior investimento nas forças policiais em detrimento da sua corporação.
4. São públicas as desavenças entre o Presidente Xanana e o Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, o que não abona nada para a estabilização da situação do país. Xanana retirou o comando das forças de segurança a Alkatiri, chamando a si o controlo das mesmas. Perante esta situaçao de desautorização, é incompreensível a não demissão do Primeiro-Ministro Alkatiri! Também não consegui compreender a demora do Presidente Xanana para dirigir uma mensagem de acalmia aos cidadãos. Será que foi para queimar em lume brando Mari Alkatiri?
5. A prontidão com que a Austrália disponibilizou um contingente de 1300 militares para controlar a situação tresandou a interesse! É que a Austrália negociou recentemente com o Governo timorense a exploração do petróleo por umas largas dezenas de anos. Relembro apenas esta situação caricata: a Austrália sabia há anos das atrocidades cometidas pelo exército indonésio ao povo timorense e nunca foi capaz de mexer uma palha. Os australianos preferiram fechar os olhos a esta situação e manter as boas relações com a poderosa Indonésia.
6. Portugal tem uma profunda relação sentimental com Timor-Leste. É o sentimento normal do colonizador perante o país colonizado. Se Timor-Leste é hoje uma nação independente, a Portugal e à sua diplomacia o deve. Foram os diplomatas portugueses que sempre falaram da (inoportuna) questão timorense nas assembleias da ONU. É importante referir o papel de três pessoas chave para o feliz desfecho do processo de independência timorense; são elas Jorge Sampaio, António Guterres e Jaime Gama. Foi a persistência destes homens que sensibilizou kofi Annan e Bill Clinton para a questão timorense.
7. É do conhecimento geral que Portugal conduziu mal a passagem do território timorense para soberania da Indonésia. Ficou latente nos portugueses um sentimento de culpa relativo ao povo timorense. Assim, sempre que Timor-leste está em dificuldades, Portugal sente-se na obrigação de ajudar. Esta ajuda substancia-se no envio de 120 elementos da GNR para o terrritório timorense. Talvez seja o mínimo que Portugal possa fazer!

Bisca de Copas

1 comentário:

Anónimo disse...

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