quarta-feira, novembro 07, 2007

Oportunidade

O assunto acaba por vir à baila indirectamente e fruto dum comentário do duque de espadas, a quem envio daqui um abraço, ainda que já tivesse em mente escrever sobre isto há algum tempo. Falo do novo filme ‘Corrupção’, que não vi e não tenho intenções de ver, e, acima de tudo, do oportunismo revelado aquando da criação de mais uma obra da sétima arte.

Antes de mais há algumas verdades que não podemos esconder:
- o cinema em Portugal é de muito fraca qualidade, como provam as vendas (e não falo em menos do que worldwide);
- o cinema em Portugal é subsídio-dependente;
- o cinema em Portugal é uma quinta à qual só alguns priveligiados têm acesso e os dinheiros da cultura são sempre dados ao mesmo grupo de chupistas (o termo pode ser forte mas na verdade estava com vontade de o reabilitar).

Esclarecido que está o pano de fundo, triste por sinal, vamos falar da arte. A arte do cinema está, na minha modesta opinião (sim modesta porque confesso que não vejo tantos filmes como gostaria), na ideia de base. Isto é, na capacidade de pegar num bom argumento e lhe dar vida. Pegar num bom livro e transformar em imagem. Pegar em História – e para ser história temos de ter a certeza de que aconteceu – e retractá-la com fidelidade. Esta é a base de um bom filme.

No caso do ‘Corrupção’ não vejo onde está o bom livro que lhe serviu de base e nem a História que o sustenta. Vejo, isso sim, um grupo de chupistas (esta expressão é linda!!) a pegar numa fábula que vende e, às custas dos impostos de todos os portugueses, sem vergonha na cara, a transformar num ‘filme’. Neste ‘filme’, quer queiramos quer não, há pessoas visadas que terão a sua honra e o seu prestígio social abalados. Há instituições que não estão a ser respeitadas. E quem faz este ‘filme’ não respeita nada. Não respeita ninguém. Acima de tudo, mostra não se respeitar a si mesmo. Que uma cena dessas venha de uma ex-prostituta, com os dinheiros sabe-se lá de onde, ainda se esquece. Que venha de nomes consagrados (em Portugal) como João Botelho e Nicolau Breyner não se deve perdoar.

Mas cabe-nos a nós mostrar que não alinhamos com estas faltas de pudor. Cabe-nos a nós mostrar que os atalhos para o dinheiro fácil não existem e que os principios éticos e morais devem ser a base da vida em sociedade.

VLT

Sem comentários: