Um conto de Carnaval
Julgo que deve ser mister de quem se lança na empresa de escrever, preservar um mínimo de nexo, respeito pela história e até, algum pudor. Digo isto a propósito de umas observações aqui efectuadas, que se prendiam com o jogador Petit, mas sobretudo, com os considerandos acerca da liberdade de expressão e a sua relação com a esquerda.
Por ver que impera a ignorância na burguesia nacional, vou contar uma estória, que gostava que tivesse algum valor didáctico e por isso imaginarei que o interlocutor tem três anos de idade. Começa assim:
“Era uma vez um senhor chamado Oliveira Salazar que governava com mão de ferro um país de nome Portugal. Tudo corria bem neste país, só não se podia falar muito porque o senhor irritava-se.
Embora algo sisudo, este senhor tinha dois amigos que se chamavam Mussolini e Franco. Diziam que pertenciam à mesma família politica, a família Extrema Direita e que se não deixavam as pessoas falar era para que elas não dissessem asneiras. Fazia parte da educação.
Mas havia outra família, a família Esquerda, os quais gostavam muito de falar e por isso tiraram o senhor do poder com uma revolução. Chamou-se 25 de Abril.”
Quanto à legitimidade para falar em liberdade de expressão espero ter sido elucidativo (atente-se que não sou apologista que a direita não o possa fazer).
Confesso que tive de fazer um esforço para parar de me rir e tentar fazer um comentário sério ao que foi escrito sobre Freitas do Amaral representar a esquerda. Como? Esse sindicalista? Não consegui…
Esta direita que desconhece a revolução é a mesma que confunde liberdade de expressão com direito à ofensa e isso, em pleno seculo XXI, surpreende-me. Tragam um bocadinho de Rousseau para esta mesa! É certo que nada legitima a resposta dos árabes radicais, mas também devemos ser sensatos quando abordamos questões que põe em causa valores fundamentais dos outros. Doutro modo as maiores desonras poderiam ser cometidas em nome da liberdade de expressão.
Quanto ao segundo ponto abordado, mesmo dando de barato que Petit “o estripador” deveria ser punido com cartão vermelho aquando de um lance com Targino no ano passado (o que para quem diz não fixar os lances constitui um prodigioso esforço de memória), no que às jogadas com Felício e Liedson diz respeito apenas tenho a dizer que se isso fosse motivo para cartão vermelho, então só no FCP-Braga desta segunda-feira (para não ir mais longe), seriam três jogadores expulsos – Quaresma, Pepe e Pedro Emanuel. Mas como futebol não é voleibol considero que também estes foram bem punidos com cartão amarelo.
Claro está que nem todos nos lembramos de lances do passado. Para isso é condição que estes nos marquem de alguma maneira. Por isso, poderia viver cem anos que nunca me esqueceria de um frango de um campioníssimo guarda-redes que saltou da capoeira porque um fiscal de linha a 20m de distância não viu o que eu vi a 70. Eis o porquê de certos serem oprimidos e revoltados, outros serem arguidos…
Duque de Espadas
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