sexta-feira, março 31, 2006

Movido pela conveniência de enquadrar as palavras de Eça sobre Portugal, um “país ingovernável”, deixo aqui a razão do seu lamurio.
Numa coisa não podia estar mais de acordo. A actualidade secular das suas palavras mantêm-se!


“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal, como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”


Eça de Queirós, em “AS FARPAS” – 1871
Ás de Ouros

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