O Martelo de Ouro, por Jorge Valdano*
Não resisti a transcrever uma pérola, do melhor escriba de futebol do mundo: Jorge Valdano. Uma escrita apaixonante, inapelável. De quem sabe muito do jogo e consegue expressá-lo como ninguém. Único.
Senão reparem…
"E o bola-de-ouro é...
Bonito, simpático, com êxito... Rápido, ágil e contundente... Trabalhador, disciplinado, honesto… e com a bola nos pés? Se estiver nos pés do rival, bem.”… “Alfredo Di Stefano costuma diferenciar o jogo destrutivo do criativo de uma forma visual: “ Para fazer uma casa são necessários arquitectos e projectos, para deitá-la abaixo basta uma martelo”. Por este motivo é difícil para mim aceitar que se entregue a Bola de Ouro a um defesa sem condições reconhecidas para iniciar o jogo. Para mais, tendo em conta que não alcançaram essa honra jogadores da categoria de Baresi (que movimentava a equipa como um ballet), Fernando Hierro (que ganhava lances por cima e por baixo para depois dar um destino justo à bola) ou Roberto Carlos (merecedor de uma Bola de Ouro, outra de Prata e uma terceira de Bronze pelo peso que tem como defesa, médio e avançado). Todos deixaram (ou deixarão) o futebol sem sequer receber um martelo de ouro, fazendo referência à analogia de Alfredo. Que o futebol é um terreno hostil para jogadores criativos e técnicos já o sabemos desde que a obsessão táctica converteu os jogadores em soldados, desde que os médios centro se multiplicaram para desaparecerem os médios-ofensivos, desde que os avançados até defendem…
Este minucioso atentado ao espectáculo ficou consagrado nesta semana com a entrega da Bola de Ouro a Cannavaro que, ao menos, teve o bom gosto de não a recusar… com um pontapé para o ar."
Duque de Espadas
* titulo da minha responsabilidade
1 comentário:
Há muitos anos que aprecio a escrita de Jorge Valdano. Tendo sido um artista em campo, tinha sempre a seu lado a sombra do enorme Maradona. Escreve como poucos sobre futebol, a sua prosa transpira inteligência, subtileza e conhecimento prático do jogo.
Lê-lo todos os Sábados n´A BOLA é um enorme prazer.
Tal como Valdano, gostaria que as bolas de ouro fossem sempre entregues aos artistas... àqueles predestinados para os quais a bola não tem segredos!
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