Reflexão
Não queria deixar passar a oportunidade de compartilhar convosco algumas opiniões acerca de toda esta discussão da IVG. Para bem da democracia, a unanimidade não existe. É a controvérsia nas opiniões que nos faz debater temas importantes e desenvolvermo-nos. É isso que considero fundamental, e não as correntes políticas que ao sabor das conveniências vão ditando directrizes para os seus cegos fiéis. A minha primeira opinião vai precisamente para este ponto. Acho incompreensível que um tema como este seja partidarizado da forma como está a ser, principalmente pela esquerda, que sem excepção se associou à causa do “SIM”. Por que é que isto acontece? Acharão os líderes partidários que cada um de nós, é incapaz de decidir pela sua própria cabeça, e terá que ser guiado, como gado em manadas? Ou será que se levantarão interesses maiores que nós desconhecemos. Como alusão, o alarmismo que se faz constantemente a pandemias mundiais, como a gripe das aves, faz disparar lucros de empresas farmacêuticas controladas por políticos poderosos.
Tive e tenho dúvidas acerca do meu voto nesta questão. Por isso custa-me compreender, que jovens de 20 e poucos anos, com pouca experiência de vida, tenham as suas opiniões entranhadas de tal maneira que não há argumentos que os possam balançar. Mais, para fazer valer as suas opiniões, e quando nunca o fazem, conseguem dizer “deixemo-nos de ‘direitas’ e ‘esquerdas’para fundamentar questões de fundo”. Caro valete, gostava de acreditar que o que o move é a pena que sente por TODAS as mulheres, mesmo aquelas que querem que ganhe o “NÃO”, sim, porque deve haver ai uma ou outra que quer esse desfecho. E já que falou nas que conhecemos em casa, deixa-me aproveitar estas linhas para te dizer, que algumas que conheço sentem precisamente o contrário das que conheces. Lá está são opiniões, que não nos devem “revoltar e enojar”.
O meu voto neste referendo vai recair no “SIM”, por dois motivos: 1) entendo que a mulher não deve ser penalizada judicialmente por fazer um aborto; 2) evitar que as mulheres o façam sem segurança;
É isto que nos perguntam dia 11, e a isso respondo “SIM”. A questão das semanas, considero irrelevante, porque nunca irá existir consenso em relação ao tema, e porque como o rei, acho que a vida começa aquando da união dos gâmetas.
A Lei actual enumera, um conjunto de circunstâncias excepcionais em que o aborto não é punível:a) Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave eirreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica damulher grávida, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo; b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave e duradouralesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida efor realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez; c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, deforma incurável, de doença grave ou malformação congénita, e for realizadanas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-se as situações de fetosinviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo; d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade eautodeterminação sexual e a interrupção for realizada nas primeiras 16semanas.As minhas dúvidas surgem-me precisamente quando leio a lei. Será que esta não é suficiente? Será que deve ser permitido o aborto a mulheres que engravidaram e que nãoquerem assumir a responsabilidade dos seus actos? Parece-me claro que vamos ter que lidar com este problema, pois foi o que aconteceu noutros países europeus.
Penso que o “NÃO” tem argumentos fortes, como:
- existir muita informação sobre sexualidade; os métodos contraceptivos serem gratuitos nos hospitais e centros de saúde, assim como as consultas de planeamento familiar;
- a mulher é dona do seu corpo, mas até que ponto será dona do SER que gera dentro de si, que não pediu para nascer e tem direito à vida;- até que ponto os hospitais vão ter capacidade de resposta para este problema, e será que uma das razões pela qual vou votar, proporcionar um aborto digno às mulheres, não se tornará uma ilusão, perpetuando-se os abortos clandestinos e tornando-se um negócio bastante lucrativo para as clínicas privadas.
Acho estes argumentos fortes, que no mínimo nos devem pôr a pensar no assunto, para não falarmos sobre um tema tão sério com leviandade, mas acima de tudo para dia 11 votarmos em consciência.
Um abraço, 4 de espadas!
1 comentário:
Devo dizer-te que para mim não foi nada fácil tomar uma decisão quanto à minha intenção de voto. Tal como tu, penso existirem argumentos válidos nas duas partes em confronto, porém, depois de uma profunda reflexão tive que tomar partido por uma das partes. Espero que se ganhar o sim, a nova lei contemple o acompanhamento médico, psicológico e social à mulher grávida tendo em vista a tomada de uma decisão informada.
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